Segredos do Rancho Skinwalker

Autor: Leonardo Vaz Rodrigues

A lenda

Segundo a narrativa lendária do Estado de Utah, na localidade onde se encontra atualmente o Rancho Skinwalker houve uma confrontação de grandes proporções entre as tribos indígenas do Utes e dos Navajos por volta do ano de 1800. Ao fim, os navajos teriam amaldiçoado aquela região com os chamados skinwalkers, espíritos malignos que assumiriam diferentes formas, que, desde então, seriam os responsáveis pelos fenômenos anômalos encontrados naquela área.

Alguns jornais do início do século 20 já relatavam que os moradores da região presenciavam estranhas ocorrências que seriam inexplicáveis convencionalmente, como sons sem causa aparente, movimentação de objetos e fenômenos tipo poltergeist. Na década de 70 começariam igualmente os relatos de avistamentos de objetos voadores não identificados que se relacionavam com episódios de sintomas físicos em testemunhas, náuseas e paralisias temporárias. No entanto foi a partir da década de 90, com a chegada da família Sherman ao Rancho, que os relatos de atividade paranormal aumentaram, o que fez com que o local se tornasse famoso nacionalmente. Além dos fenômenos já relatados anteriormente, agora somavam-se mutilações de gado e aparições de seres e animais desconhecidos.

Robert Bigelow e o NIDS

Essas ocorrências bizarras acabam por chamar a atenção do magnata Robert Bigelow que adquire o Rancho entre os anos de 1995 e 1996. Na mesma época em que ele criaria o NIDS (National Institute for Discovery Science), instituto de pesquisa científica que possuía a finalidade de estudar a sobrevivência da consciência após a morte, bem como os chamados discos voadores. Para esse empreendimento, Bigelow reúne uma equipe com diversas figuras conhecidas do meio ufológico como Jacques Vallée, Hal Puthoff, Eric Davis, Colm Kelleher, John Alexandre e John Mack.

Fora decidido que o escopo do estudo seria amplo, abrangendo também os fenômenos paranormais, o que provavelmente teve grande influência do pesquisador Jacques Vallée.

Entre os anos de 1996 e 2002, o instituto pesquisou de modo aprofundado o Rancho Skinwalker, sendo que parte desse estudo pode ser conferido no livro Hunt for the Skinwalkers de 2005, escrito por Colm Kelleher e George Knapp.

BAASS e o AAWSAP

Harry Reid tinha um interesse em ufos de longa data, já em 1989 mantinha contado com o jornalista e investigador ufológico George Knapp, participando inclusive de uma das reuniões do NIDS no ano de 1996 por intermédio desse último.

Por iniciativa de Reid, de 2008 a 2010 houve a vigência do programa AAWSAP, onde o pentágono, de forma oficial e com um orçamento de 22 milhões de dólares, investigaria fenômenos aéreos não identificados e atividade paranormal, tendo o Rancho Skinwalker como palco principal. Aqui novamente Robert Bigelow desempenharia papel importante, já que uma de suas empresas, a BAASS (Bigelow Aerospace Advanced Space Studies), foi a ganhadora da licitação. Nessa ocasião houve, igualmente, uma controvérsia em relação aos objetivos do programa, pois alguns participantes entendiam que o estudo deveria se restringir aos UFOs. Entretanto, assim como foi com o NIDS, o escopo mais amplo perdurou.

O teor dessa pesquisa pode ser encontrado, em parte, no recente livro Skinwalkers at the Pentagon, onde é relatado avistamentos de luzes ou do que se convencionou a chamar de orbes, fenômenos poltergeist e aparições de estranhos seres e criaturas. As conclusões do estudo foram as seguintes:

1 – Efeito carona: Por vezes o evento paranormal ocorria no ambiente familiar do pesquisador, ao invés de ocorrer no próprio Rancho. Nesse sentido, temos o exemplo da ocorrência com o pesquisador James Lacatski, que, quando retornou a sua casa após passar alguns dias realizando pesquisas no Rancho Skinwalker, sua mulher e seus filhos relatam o avistamento de uma estranha criatura no quintal de casa, local bem distante do rancho. Essa criatura assemelhava-se a um grande lobo bípede. O efeito carona aconteceu igualmente em diversas ocasiões e com outros pesquisadores, sendo teorizado por estes últimos como similar ao efeito das epidemias virais que passam de pessoa a pessoa, como se o indivíduo que esteve uma vez presente no rancho trouxesse algo dele para seus lares.

2 – Efeitos fisiológicos: As pessoas envolvidas com os eventos paranormais do rancho, principalmente aqueles relacionados a orbs, apresentavam alterações fisiológicas e acabam desenvolvendo, em muitos casos, doenças autoimunes, algo semelhante a diversos relatos de UFOs, onde a testemunha, após o contato, apresenta cansaço, sonolência e, em alguns casos, parece nunca mais reestabelecer a saúde de antes.

3 – Confirmação da relação entre UFOs e eventos paranormais.

4 – Presença esporádica de sinais eletromagnéticos anômalos.

Em 2016, Bigelow vende o Rancho, porém em 2020 ele é objeto de novo estudo, dessa vez através do programa televisivo “O Segredo do Rancho Skinwalker”, comandado por Travis Taylor. Em adição aos achados do AAWSAP, o programa descobre alguns tipos de radiação que sugerem causar danos ao nível celular. Esse último ponto poderia esclarecer algumas das manifestações anômalas do Rancho, tendo em vista que o programa em vários momentos capta oscilações eletromagnéticas e radioativas tanto na terra como no ar, ocasião em que os aparelhos eletrônicos sofrem interferência ou simplesmente param de funcionar. Ainda nesses momentos, testemunhas apresentam mal-estar físico como dores de cabeça e náuseas.

Em um de seus episódios, os pesquisadores escavam uma parte do solo da propriedade, achando um material composto de vários elementos diferentes. O pesquisador Travis Taylor, inclusive, formula a hipótese de que a área teria sido atingida por um meteoro há muitos anos atrás, o que teria gerado essa composição de solo. Como outra hipótese, podemos formular que talvez essas oscilações energéticas possam facilitar o surgimento de alucinações ou mesmo de efeitos luminosos.

Vemos, portanto, que o estudo do Rancho Skinwalker, apesar de todas as suas controvérsias e resultados duvidosos, é um campo potencialmente fecundo para novas descobertas científicas ou, ao menos, serviria como desmistificação de crenças há muitos enraizadas popularmente. No entanto, assim como ocorre com todo o espectro dos fenômenos paranormais, estamos muito distantes de lançar uma luz mais abrangente nesse vasto campo de pesquisa.